segunda-feira, março 06, 2006

Maníaco ainda espalha medo em Araguari


Maníaco ainda espalha medo na cidade


Araguari: cidade viveu meses de apreensão e medo

Seis meses depois de o corpo da sexta mulher morta misteriosamente, em Araguari, ter sido encontrado na mesma região onde foram achados outros cadáveres, policiais da localidade prosseguem sem pista de quem pode tê-las matado. A polícia, na época, admitiu que elas foram mortas por um maníaco sexual, mas agora descarta que o serial killer tenha existido.
As mortes ocorreram entre janeiro e setembro. Em todos os casos, quem as matou usou um mesmo modus operandi: deixou os corpos nus, com indícios de que foram estuprados, desfigurou o rosto de suas vítimas por pedradas ou outros objetos não identificados e as abandonou em matagais da mesma região. Três delas, também, foram achadas num mesmo bairro da cidade.
A última vítima foi a dona de casa Edma Maria Guedes Batista, 41 anos. Evangélica, ela saiu de casa no dia 4 de setembro para levar o convite de casamento da filha a uma conhecida, no bairro de Fátima. No dia seguinte o corpo foi encontrado. "Tudo indica que temos um maníaco agindo na cidade", disse, na época, o delegado Nilson Inácio Pereira.
Pereira morreu de infarto em novembro passado. Meses antes ele pediu ajuda à Delegacia de Homicídios de Belo Horizonte nas investigações. Duas equipes vieram, ficaram dois meses em Araguari e foram embora, sem elucidar as mortes. "Eles (os policiais) continuam investigando e analisando provas", diz o sucessor de Pereira, Hamilton Tadeu de Lima.
Hamilton é quem refuta a possibilidade de as mulheres terem sido mortas por um maníaco sexual: "Não existe serial killer. As investigações indicam que são casos isolados. Porém, devido ao avançado estado de putrefação dos corpos, as provas técnicas ficaram prejudicadas, mas a polícia não desiste e vai indicar os autores desses crimes", afirma.
A presidente da 47ª subseção da OAB, Carmem Lúcia Aguiar Tavares, continua apreensiva. "Mesmo que não seja uma só pessoa que fez isso tudo, há um serial killer devido à quantidade de mulheres mortas de forma semelhante, numa mesma época." Com 15 anos de profissão, Carmem Lúcia afirma nunca ter visto, em Araguari, assassinatos em série de mulheres.
A OAB, segundo Carmem Lúcia, insiste numa resposta da polícia para os casos. "A nossa Comissão de Direitos Humanos acompanhou as investigações, mas também não obteve nenhuma solução. Nada foi descoberto até agora. O que temos hoje é medo de sair à rua porque ninguém foi preso e a gente fica aqui sem poder fazer nada", assinala cobrando providências.

Outra mulher aparece morta em condições misteriosas

O suposto maníaco sexual pode ter agido novamente, apesar de a polícia negar veementemente. No fim do dia 13 de fevereiro, o corpo da doméstica Michele Monteiro da Silva, 24 anos, mãe de dois filhos, foi encontrado nu e em estado de decomposição num terreno baldio do bairro de Fátima, a mesma localidade onde foram achados outros três cadáveres no ano passado.
Michele estava desaparecida havia 18 dias. Devido ao estado de putrefação do cadáver, os peritos não puderam constatar se houve violência sexual nem se os machucados que tinham nos restos mortais eram provenientes de algum tipo de agressão provocada por ser humano. Assim como quatro das vítimas, Michele era mãe solteira e freqüentava forrós na periferia.
Segundo o delegado regional de Polícia Civil, Hamilton Tadeu de Lima, a morte de Michele nada tem a ver com as outras. "Ela era usuária de droga. Eu acompanhei a perícia e constatamos que não havia sinais de violência no corpo".
De acordo com o delegado, assim como os outros homicídios que estão sendo investigados pela Delegacia de Homicídios da capital e pelos agentes de sua regional, neste os policiais também estão empenhados em elucidá-lo. Hamilton assegura que vai prender os criminosos, segundo ele, para dar uma satisfação à sociedade e a todos que tomaram conhecimento do fato.
Michele residia a mais de cinco quilômetros do lugar onde seu cadáver foi localizado. Segundo sua prima Ângela Maria disse numa entrevista, ela era mãe solteira, tinha uma vida normal e nem aparentava estar sendo seguida nem ameaçada por ninguém. Ao sair de casa, no dia 26 de janeiro, como fazia sempre à noite, Michele falou que ia a um bar no Centro da cidade.
O comerciante Adriano Souza, que conhecia Michele, salienta que a jovem sofria de distúrbios psicológicos. "Fiquei sabendo que esta moça tomava remédios controlados e era uma pessoa inofensiva. É mais um assassinato de mulheres que está sem solução. Lamento muito", salienta sem arriscar a dizer que Michele tenha sido mais uma vítima do suposto maníaco sexual.

Homicídios começam a esquecer os assassinatos

Populares realizaram passeata para pedir a prisão de assassino que apavorou a cidadeEmbora os assassinatos em série tenham esparramado terror e preocupação em Araguari, a rotina, seis meses depois do achado do corpo de Edma Maria Guedes Batista, está, aos poucos, voltando ao normal. Em setembro, quando, num curto espaço de 15 dias, foram achados três esqueletos, muita gente deixou de sair à rua à noite e as escolas e comércio fecharam mais cedo.
A apreensão foi tanta que a Polícia Militar veiculou nas quatro emissoras de rádio da cidade um anúncio aconselhando a população a manter-se sob sentinela e os pais ou responsáveis por estudantes não os deixassem voltar sozinhos para casa. Mais de 100 homens da PM passaram mais de um mês vasculhando bairros, três suspeitos foram presos e depois liberados.
"A cidade aos poucos foi voltando ao normal. As pessoas retornaram para as suas atividades, tanto é que tivemos há poucos dias um carnaval dos mais animados em Araguari", observa o major Ademir Ribeiro de Moura, comandante da 9ª Companhia Independente da Polícia Militar e responsável pela veiculação dos anúncios divulgados por vários dias nas emissoras.
Se por um lado os homicídios estão caindo no esquecimento, por outro o jornalista Hernan Solé não pretende deixar os inquéritos serem arquivados. "Vou continuar cobrando", afirma. Em 2005, Solé liderou uma passeata silenciosa pedindo providências, mas, segundo ele, a polícia não apurou os crimes."O que vemos hoje é um descaso total das autoridades."

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